Cidade: Porto Piano. Latitude: desconhecida. Longitude: não importa. Clima: tropical. Muito sol, barcos ancorados na baia. Mulheres e homens quase nus, bronzeados, caminhando durante todo o dia pela luz mágica (morna, 5.000 ºK com o sol na vertical) de Porto Piano. Faça uma viagem comigo, caro internauta, uma experiência como a que nós estamos fazendo. Imagine-se na cidade de Porto Piano, em junho de 2.016. Olhe para trás, para os anos que estamos vivendo hoje e escreva tudo que você está enxergando, com o verbo no passado. Às vezes precisamos nos projetar no futuro e olhar para o passado para saber o que efetivamente está acontecendo no presente. É assim que fazem os visionários, mas não conte este segredo para ninguém. Para ficar mais à vontade, mais relaxado, seja otimista. Imagine que terminou a guerra dos browsers e você já pode navegar tranquilamente pela "Internet" sem preocupações se o seu Netscape XX.085 vai ler ou não os Dynamic HTML da Microsoft ou se o seu Explorer XX.059 vai decifrar os padrões de Java da Sun. Delire um pouco mais ainda. Imagine que todos os problemas sociais já foram resolvidos, acabaram-se as guerras, a AIDS, a fome, e a vida, de tão fácil, acabou ficando até chata e monótona. Seja otimista mesmo. A varanda de sua casa dá para a praia - como aquelas de Malibu Beach - que você vê nos filmes americanos. Um pouco antes do pôr-de-sol você sai para andar pela areia e vive momentos mágicos e misteriosos. À sua frente caminha, a uma certa distância, uma bela mulher, toda vestida de azul, lendo um livro que você não consegue distinguir o nome. Em um certo momento ela pára, tira as suas roupas azuis e entra nua no mar. Você passa, olha as roupas esparramadas pela areia, o livro, joga um olhar meio tímido e curioso para o corpo nu e discretamente segue em frente até o fim da praia. Quando retorna ela já está se vestindo e continua a caminhar à sua frente, lendo o livro. Você pensa em apressar o passo para alcançá-la, mas quando percebe ela e o livro já sumiram na névoa do fim de tarde. Mas isso não o deixa triste porque você tem certeza que ela voltará no dia seguinte. Enquanto aguarda um novo pôr-de-sol, você liga o seu computador, contempla os dias que estamos vivendo hoje e registra tudo. Experiência concluída. Agora se desligue de Porto Piano e retorne ao texto desde o início. Coloque o verbo no presente. O que você registrou é o que está acontecendo hoje. A misteriosa mulher ? Você nunca mais a viu.
Antes da viagem o silêncio do monitor me fascina, me enfeitiça, me fala de lugares em que eu gostaria de estar, de pessoas que eu gostaria de conhecer, de uma outra forma de mim mesmo em que gostaria de existir e que me está disponível. Começo então a inventar linhas imaginárias, teias de bits, e a enxergar a possibilidade de estar nesses lugares, rodar madrugadas inteiras viajando, conhecer essas pessoas, existir nesse espaço e nesse tempo ...Olho para o screen apagado, para a possibilidade da viagem, e procuro uma explicação. Enquanto isso, lá fora, a tarde morre, sem muitas explicações. Sonhador parto então para a viagem, navego entre bits e cores esperando sempre encontrar a palavra definitiva, o gesto, a explicação, nem que seja em algum beco escuro da manhã. Através do monitor contemplo agora o sol se pondo em Lajeado, e tenho uma vontade imensa de arranhar a noite com as minhas unhas de bits, esculpidas por esse novo tempo em que vivo. Navego devorado pela minha própria ansiedad
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